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Belchior e Elis sendo usados covardemente para comemorar uma montadora que colaborou com a ditadura.

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Olha isso: a VW tem uma propaganda que simula a Elis e a Maria Rita fazendo um dueto ( Como Nossos Pais), ambas dirigindo VW’s e cantando.

Para simular a Elis pilotando uma Kombi usaram inteligência artificial para afrontar ou esmagar a inteligência natural de tantos outros.

É uma peça absurda não só pelo “realismo fantástico” a serviço de uma empresa que tem demitido e explorado sistematicamente os obreiros de São Bernardo e outras praças do Brasil. O absurdo maior é que Elis cantava Rancho da Goiabada com João Bosco em 1979 no Primeiro de Maio de 1979 para alimentar o caixa do fundo de greve dos metalúrgicos do ABC.

Não sabemos como seria a Elis hoje, vão dizer. Mas o fato real é que sabemos como era a Elis antes de morrer. Os mortos não mudam e têm a prerrogativa de habitarem nossas memórias.

Nenhum herdeiro deveria lucrar sobre um pastiche de publicidade, um arremedo de propaganda em que a garota propaganda não tem a oportunidade de se opor a esse uso da memória herdada.

Belchior também não está mais aqui nem mesmo para andar caminho errado pela simples alegria de ser. Como fazer quando o capital continua esmagando o trabalho e glamourizando a violência do roubo do tempo de vida do operário usando a imagem e a memória de pessoas que morreram defendendo ideias que estavam, para dizer o menos, em contradição com aquelas dos senhores da montadora criada na Alemanha na década de 30 ( o que é autoexplicativo do nível de exploração nas fases iniciais da marca)?

Pergunta longa seguida de pausa mais longa ainda para que se pense no beco sem saída da apropriação das imagens de qualquer pessoa. Qualquer pessoa, mesmo os defensores dos trabalhadores: a imagem de Frida Kahlo é superestimada no aspecto feminista para omitir ( sempre) que Frida era comunista ( do partido mesmo).

Isso tudo faz pensar para que vai servir a inteligência artificial conforme ela seja mais e mais habilidosa.

Para que e a quem vai servir.

Se a história nos ensina alguma coisa, já temos uma ideia da resposta, quase uma certeza.

Elis não merecia isso , Belchior também não.

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este novo nesse formato de escrita e leitura crítica -que o substack. vem oferecendo .Agrada-me muito. certas postagens como esta e uma outra: Direito@Público .espero que continue assim. trazendo este olhar certeiro . grato por esta oportunidade de ampliar meu senso crítico.

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Obrigada por escrever, eu achei o comercial cagadíssimo. Mas eu fico pensando, sinceramente, se a Maria Rita nao entrou na ilusao do apelo sentimental que a imagem dela com a mae causam nela mesma. Deve ser bem doido viver sempre com a ausência dessa pessoa e vê-la através de um recurso tecnológico desses. Mas é aquilo, né, eu nao sou filha dela e também só consigo ver a contradiçao de usar uma letra dessas e a figura da militante que ela foi em prol de uma empresa que tem uma hostória de exploraçao e má fé tao horríveis.

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Agora a gente vai ter que se preocupar com o que vão fazer com a nossa imagem depois que a gente morrer 🫠

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Nossa! Tava matutando sobre isso exatamente quando vi seu texto...

Adorei, principalmente porque concordo e discordo contigo.

Coisa rara hoje, né?

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É um desrespeito tão óbvio que é realmente difícil entender como isso foi pra frente e como é celebrado. Juliana, você é muito necessária e esse texto deveria estar alcançando multidões. Que distopia pós-moderna mais insana o capitalismo está proporcionando. Credo.

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Concordo com o texto e, além disso, juntar carro com uma pessoa que já morreu me causou uma má impressão, do ponto de vista de semiótica mesmo. Pensei em acidente, em ver gente que morreu. Em perigo. A peça é linda, mas o atropelo da ética ainda veio com mais essa.

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No filme do Flash eles fazem algo parecido com um ator finado que fez o super homem. Me dá muita aflição usar a imagem alheia dessa forma, quase que como uma marionete mesmo - nem mortos vamos ficar em paz parece.

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Agora, além de ter que ir no cartório registrar o pedido de 'não ressuscitar', vou que te me preocupar com isso

também.

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Nossa, que texto bom. Senti o mesmo incômodo. A música inadequada, mas que tem um apelo sentimental para a geração com poder de compra do produto que eles estão ofertando. E o fato do contexto ser totalmente diverso da ideologia política que a artista professava. Meu medo da IA nem é sobre desemprego ou extermínio da humanidade, mas ser instrumento de engodos e violações como essas.

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Texto excelente e afiado, muito boa reflexão. Mas mixed feelings. Acho q os Bôscoli/Mariano normalmente são atentos, sensíveis socialmente, assertivos, comprometidos e preocupados com a gestão do legado da mãe. Fazem um bom trabalho, por exemplo não criando barreiras na biografia da Elis escrita pelo Júlio Maria. Eles não são vazios e só capitalistas, também são mas pensam além. Tem um aspecto emocional importante sim, mas é uma pena q no final se resume a ganhar dinheiro com adds para uma empresa duvidosa (como quase todas as outras). Paramos de perguntar para que e por que fazemos as coisas

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O menino que cria deepfakes poderia fazer uma resposta da Elis ao comercial desaprovando com toda aquela energia dela. Já que ninguém tem propriedade sobre a imagem dos mortos, ninguém vai poder achar ruim!

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Amei o texto!

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Adorei o texto, Juliana.

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Excelente! Ainda to aqui indignada com essa propaganda. Acho que vou escrever uma news sobre isso também.

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