Que boa análise. Eu não sabia que a música estava no filme, portanto nunca fiz essa associação. Mas me chama a atenção como Exit Music segue uma espécie de estrutura que se repete em outras músicas do Radiohead como Fake Plastic Trees, Lucky e You And Whose Army? (e possivelmente em outras), que acabam sempre por "materializar sonoramente o martírio", como você descreve.
Tangencialmente relevante pra essa deliciosa discussão, tem o detalhe bacana de que Exit Music for a Film meio que é um plágio do Prelude, Op. 28, No. 4 do Chopin. Muita gente já tinha descrito esse prelúdio como sufocante, etc (o artigo da wikipedia a respeito do prelúdio é bem interessante), então boa parte do poder está na harmonia, e não apenas na letra. Mas, o mais interessante é que o que você identificou aí como terceiro ato é 100% radiohead, não tem equivalente no prelúdio original, que pára no que você chamou de segundo ato, "morre" devagar e sem resistência.
Esse coda de resistência e revolta do Radiohead (o terceiro ato) acaba então sendo uma reconfiguração não só do Hamlet, mas do Chopin.
Em outra digressão tangencial, me lembrou o fim do filme "O Processo", do Orson Welles. No livro o personagem K. é executado no final sem oferecer qualquer resistência. Na filme, porém, K. resiste e desafia os executores, ainda que em vão. Quando perguntaram pra Welles o porque da mudança, ele disse algo como "depois do Holocausto, eu não consigo tolerar a ideia de K., que obviamente é judeu, morrer sem resistir". Chilling stuff.
Por fim, por fim, tem uma outra música que plagia o mesmo prelúdio: Insensatez, do Tom Jobim. Absolutamente irrelevante pra discussão, mas já que você claramente é obcecada por essa pequena jóia do Radiohead, vale ouvir um mashup: https://www.youtube.com/watch?v=screB680HqY
Obrigado pelo ensaio. Me levou pra longe, me fez esquecer meu trabalho corporativo por um instantinho.
Juliana, eu queria muito ter mais oportunidade de entender de música e literatura. Infelizmente, minha criação não me permitiu até hoje. Seus textos pra mim são um refúgio. É tudo que eu quero um dia conseguir fazer. Espero que saiba que tem uma admiradora longe. Espero que a boa recepção desse texto motive a você a fazer mais dessas análises. Beijos.
adorei. música boa sempre tem disso de estar ali sempre cheia de sentidos aguardado para serem descobertos. idioteque, do radiohead, tem algo muito forte de traduzir pra mim, desde adolescente, um sentimento que só consigo elaborar agora (e ainda pior que eles), muitos anos depois.
Nossa, esse close do perfil do DiCaprio arrancou muitos suspiros adolescentes, rsrs! Viajei longe com teu texto, porque eu tinha o CD com a trilha sonora e escutava repetidamente Talk Show Host e aquela música romântica da cena do aquário. Exit for a film eu não lembro de escutar, mas achei incrível a tua análise, fez todo sentido pra mim. Eu amo receber e-mail avisando que tem texto teu, adoro tudo que você escreve, acho que todo mundo que um dia sonhou ser escritor se sente assim lendo você. Um beijo
Que boa análise. Eu não sabia que a música estava no filme, portanto nunca fiz essa associação. Mas me chama a atenção como Exit Music segue uma espécie de estrutura que se repete em outras músicas do Radiohead como Fake Plastic Trees, Lucky e You And Whose Army? (e possivelmente em outras), que acabam sempre por "materializar sonoramente o martírio", como você descreve.
Outra com essa estrutura: "Karma Police"
Belíssima análise.
Tangencialmente relevante pra essa deliciosa discussão, tem o detalhe bacana de que Exit Music for a Film meio que é um plágio do Prelude, Op. 28, No. 4 do Chopin. Muita gente já tinha descrito esse prelúdio como sufocante, etc (o artigo da wikipedia a respeito do prelúdio é bem interessante), então boa parte do poder está na harmonia, e não apenas na letra. Mas, o mais interessante é que o que você identificou aí como terceiro ato é 100% radiohead, não tem equivalente no prelúdio original, que pára no que você chamou de segundo ato, "morre" devagar e sem resistência.
Esse coda de resistência e revolta do Radiohead (o terceiro ato) acaba então sendo uma reconfiguração não só do Hamlet, mas do Chopin.
Em outra digressão tangencial, me lembrou o fim do filme "O Processo", do Orson Welles. No livro o personagem K. é executado no final sem oferecer qualquer resistência. Na filme, porém, K. resiste e desafia os executores, ainda que em vão. Quando perguntaram pra Welles o porque da mudança, ele disse algo como "depois do Holocausto, eu não consigo tolerar a ideia de K., que obviamente é judeu, morrer sem resistir". Chilling stuff.
Por fim, por fim, tem uma outra música que plagia o mesmo prelúdio: Insensatez, do Tom Jobim. Absolutamente irrelevante pra discussão, mas já que você claramente é obcecada por essa pequena jóia do Radiohead, vale ouvir um mashup: https://www.youtube.com/watch?v=screB680HqY
Obrigado pelo ensaio. Me levou pra longe, me fez esquecer meu trabalho corporativo por um instantinho.
Nossa! Obrigada a vocês dois!!! Juliana e Daniel!
Maravilhosa análise, amo ler você! Bjs
Que análise primorosa! Vou até reassistir ao filme e revisitar essa música canônica na minha vida <3
Juliana, eu queria muito ter mais oportunidade de entender de música e literatura. Infelizmente, minha criação não me permitiu até hoje. Seus textos pra mim são um refúgio. É tudo que eu quero um dia conseguir fazer. Espero que saiba que tem uma admiradora longe. Espero que a boa recepção desse texto motive a você a fazer mais dessas análises. Beijos.
Que texto maravilhoso! Saudades Radiohead!
Amei o texto!! Vou ser obrigada a assistir o filme agora
juju, você é maravilhosa. que alegria poder ler em português irretocável pensamentos enriquecedores. sou fã desde sempre ; )
nunca mais escutarei essa música da mesma forma.
Amei!
adorei. música boa sempre tem disso de estar ali sempre cheia de sentidos aguardado para serem descobertos. idioteque, do radiohead, tem algo muito forte de traduzir pra mim, desde adolescente, um sentimento que só consigo elaborar agora (e ainda pior que eles), muitos anos depois.
bom, que na verdade, não é nem um sentimento individual, mas algo coletivo e histórico mesmo
Nossa, esse close do perfil do DiCaprio arrancou muitos suspiros adolescentes, rsrs! Viajei longe com teu texto, porque eu tinha o CD com a trilha sonora e escutava repetidamente Talk Show Host e aquela música romântica da cena do aquário. Exit for a film eu não lembro de escutar, mas achei incrível a tua análise, fez todo sentido pra mim. Eu amo receber e-mail avisando que tem texto teu, adoro tudo que você escreve, acho que todo mundo que um dia sonhou ser escritor se sente assim lendo você. Um beijo
OK Computer foi, talvez, o disco ue mais ouvi na vida, e NUNCA havia encarado assim.
Incrível sua "sagacidade" nessa interpretação. Mudou completamente a forma como enxergo uma obra que ouço há + de 20 anos.
É um bom dia quando há texto de Juliana Cunha no e-mail.
Fantástico! Eu amo essa música. Esse álbum mudou minha forma de ouvir música na adolescência 🩵